Abala-me


Não, não me olhes dessa maneira,
Prisioneiro do teu olhar.
Diz-me onde me queres e estarei lá,
Abraça-me outra vez,
Passa a noite comigo,
Não me fales em sexo.
Não quero sexo.
Apenas quero deambular no alto da tua nuca,
Com a boca sorver o calor da tua pele,
No teu corpo pintar quadros durante horas.
No teu corpo suar a minha arte.
No teu corpo um toque de mim.
(Suspiro!)

Entrega-te a mim.
Abala-me.
Já não aguento tantos minutos sem
Inspirar o ar que expiras.
O meu destino.
Não jogues jogos comigo.
Más intenções – não as tenho - quando te toco.
Faz-me ser puro,
Faz-me amar-te como se eu não soubesse amar,
Faz-me sorrir em vez de rir,
Faz-me homem.
Faz-me criança.

Lágrimas em nossos olhos enquanto fazemos amor,
Lágrimas nem de felicidade nem de tristeza,
Lágrimas porque é demais forte,
Demasiado diferente do que já havíamos experimentado em nossas vidas errantes,
A paixão e o fogo,
O céu e a terra.
A fome e a sede.

Não me fales então em sexo.
Desconheço-o desde o dia em que te toquei pela primeira vez.
Por isso toca-me, leva-me, usa-me, arranca-me, morde-me, beija-me, sente-me, ama-me,
Até veres em mim a poesia que procuras desde sempre.
E se não a vires.
Prefiro que me mintas.
Mas mente bem.
Engana-me sempre.
Não me acordes,
Não me destapes os olhos,
Quero-te assim, especial.

E tu conheces-me:
A paixão é a água onde curo as minhas securas
O ar que me enche os pulmões,
A água que me refresca a alma.
Não vás,
Ou vai mas volta,
Abala-me.
Faz-me viver.
Arranca-me desta vida miserável.
Rega-me de beijos,
Faz-me contemplar-te.

A lucidez de não estar lúcido.
Morfina para o meu doce desejo.
Já não quero ter sonhos.
Apenas quero que não me acordes deste sono profundo
Não te tornes igual a todas as mulheres que já tive.
Prefiro a tempestade à calmaria de águas mortiças.
Não sejas uma paixão passageira,
Belisca-me.
Ofusca-me.
Cega-me.
Abala-me.
Faz-me ser.

Alma Patre


Tu no teu mundo e eu no meu.
Isso e muitas mais coisas em comum.
Ambos sonhadores.

Eles levaram-te como me levarão a mim.
Agora o deserto.
O deserto em mim presente.
Rio para não chorar.
Mas rios de lágrimas já os percorri.
Já não tenho lágrimas.
Já não sinto.

A vida que me traiu desde o primeiro dia.
Ou talvez tenha sido eu quem não quis abrir os olhos.
Sempre gostei de viver no meu mundo, deveras melhor do que o dos homens comuns.
Talvez tenha sido eu que não esperasse um adeus tão jovem,
Um adeus que ficou por dizer,
Ou um abraço, um beijo, uma frase.

Quem me chama de forte não sabe nada de mim.
Sou fraco, tão fraco.
Mais enfraquecido fiquei.
Mas minto bem, pareço normal.
Pareço aquilo que a sociedade pede.
Pareço racional, com força, forte.
Mas é tudo mentira.
Sinto-me perdido, a afundar.
A amargurar um coração que não te deixou de amar
Já estou seco.

A minha vida sem leis
Porquê leis?
Eles não nos vêm buscar à mesma, com ou sem leis?
Ás vezes gostava que fosse já o meu dia.
Ás vezes gostava de adormecer nesse mar sem ondas,
Nesse pântano sem ruídos.

Falso, o mundo à minha volta.
As pessoas, as rotinas, as coisas todas.
Tudo falso.
Escape talvez.
Espero por ti mas tu nunca mais chegas.
Faço os outros rirem para os manter ocupados,
Porque quando rimos esquecemos,
E eu quero ser esquecido,
Deixado de parte,
Mas eu já nem sei o que quero.

Trouxeste contigo uma dúvida tão grande.
Finjo ainda ter interesses, finjo ainda encaixar no sistema.
Mas vejo agora que nunca fiz parte do mesmo.
Lunático, perdido, sozinho.
Fechado no meu mundo.
Um grito de socorro se eu quisesse ser socorrido
Mas nada que não ilusões, futilidades ou superficialidades
Para me encherem de vazio.

Só nos meus sonhos,
Já só nos meus sonhos te tenho comigo.
Nós a pescarmos. Não que qualquer um de nós goste de pescar.
Mas pescar é o melhor engodo para uma conversa profunda entre dois homens.
A solidão de dois seres, o mar como tela e uma cana de pesca para simular um acto mundano.
Nós a falarmos. Conversas fáceis. Algumas menos fáceis.
As tuas histórias. Histórias sobre os erros que cometeste.
Sobre os feitos que alcançaste.
Caminhos onde devo pisar os teus trilhos.
E caminhos que devo desprezar.
Agora, se quiser pescar, terei que o fazer só,
Qual criança ingénua.

Nó da gravata aprendido.
Várias coisas aprendidas.
Todos os dias, o teu olhar nos olhos de outros,
As tuas palavras nas bocas de outros.
Chega-te a mim um dia destes para falarmos e talvez, irmos à pesca.
Desta vez estás mais demorado do que o costume.
Mas depressa chegarás, tenho a certeza.

Pétalas de Angústia


As pétalas de angústia que me inundam a face,
As mágoas de outrora que me abraçam a leveza do espírito,
As lágrimas que os teus olhos ocultam,
A trémula saudade que me palmilha o ser,
A tua força que engrandece as minhas memórias.
Tu a correres ao fim da tarde,
Tu a sorrires, tu a tocares-me, tu a conteres o riso
As vezes que morreste!

Morre o meu espírito com a tua morte,
A minha carne que respira o ar putrefacto da tua ida sem regresso,
A loucura de te ter e não te ter mesmo guardando-te no mais inviolável cofre...
A minha memória!
O meu coração será sempre teu!
Cada batimento por ti, ritmado com a métrica do teu nome.
O teu sorriso um quadro de mil cores para sempre presente em mim...
Oxalá alguém ouvisse o meu choro nesta plácida noite de angústias...

Por aqui fico...

O Beijo do Amor (Um Beijo)


Um beijo,
Um beijo que começa devagar,
Lábios tocando lábios timidamente,
Como se não me conhecesses no beijo
E temesses beijar-me sofregamente.

Mas um beijo tem uma infância que não tarda a amadurecer
E, sem que eu dê por isso, já me beijas um beijo adulto
Sem pudor e sem suavidade,
Um beijo que morde,
Um beijo que magoa,
Um beijo que me agita o corpo,
Um beijo simplesmente beijo.

Um beijo que perdura em mim o sabor silvestre da tua língua,
Lânguida, voraz a beijar,
Consomes-me os lábios,
Róis-me a língua,
Ranges os teus dentes nos meus,
E afogas-me na tua saliva envolta de sabores voluptuosos.

Paixão selvagem no toque do teu beijo
E beijo o teu beijo
Pois já não és só tu que me beijas
Eu também já te beijo
O meu beijo guardado
O meu beijo secreto,
O meu beijo que guardo apenas para quem me beija assim,
O meu corpo, a minha mente e o meu sexo no meu beijo
Que cobre o teu beijo com beijos que são apenas um único beijo
O meu beijo cobrindo-te de beijos
Neste beijo infindável que te ofereço quando me beijas!
É talvez um beijo apenas, mas um beijo especial...
O beijo do amor!

Já Não Te Amo


Já não te amo...
Já não choro quando te vais...
Já não rejubilo com a tua presença...
Já não te leio em madrigais
Respiro apenas, só, esta estranha doença.
E já não te cheiro em flores,
Ainda retenho os teus odores,
Mas já não me vejo em ti
Nem tão pouco te vejo assim,
Eterno amor do passado,
Ternura, Paixão e enfado,
Ou, simplesmente, um interminável amor,
Que sente frio o teu calor,
Mas eu já nem te amo, amor!

Que loucura de vida a que tenho,
Não me deixa arte ou engenho
Só apenas palavras vãs que me negas,
Nesta jornada por caminhos de trevas!
Amanhã serás um quadro tingido,
Um fulgor fingido,
Um farrapo a um canto,
Uma lágrima e um soluçar ligeiro,
O meu falso e trágico pranto,
Uma história para contar nas tardes de janeiro,
Aos filhos, aos netos,
- Meros fetos..
de dor!... -
Eu já não te amo, oh amor!

Amor Terno e Eterno


E agora que chegamos juntos até aqui,
Chegaremos mais longe,
Caminharemos juntos em direcção ao horizonte envolto em felicidade,
Doçura, amor terno e eterno
Juntos, unidos no amor,
Os corpos unidos e as almas fundidas!

Olhar em ti e ver-me,
Ver tudo o que sou, e o que me fazes ser
Olhar para ti e respirar amor...
Olhar o teu olhar e perder-me, por momentos no brilho que deles advém.
Com o teu olhar me tocas,
Com o teu olhar me afagas os temores,
Com o teu olhar me acaricias a face,
Com o teu olhar me adoças a alma,

Hoje é dia de festa!
De sorrisos partilhados!
A mulher que serei para ti
E o homem que serás em mim!
Ter-te, sentir-te, tocar-te, amar-te
Para no fim de cada dia te amar mais um pouco.
Pois amar-te será uma viagem...
O teu corpo e a tua alma serão um só local por onde deambularei em cada dia com uma nova energia, renovada
Um amor carregado de pureza,
Um objectivo, uma verdade irrefutável...
E viver a minha vida com um só intuito:
Amar-te!

Nesta Manhã de Abril


O sol que te faz parecer mais bela nesta manhã de abril,
O sorriso silencioso que me fazes e me diz mil coisas belas,
Mil palavras em jeito de poema,
Versos que não rimando, rimam o meu coração versado em paixão,
A forma como me olhas – Intimidade!
Levantas-te da cama e já oiço a água a correr...
Eu fico na cama, destapado, repercutindo no tecto do quarto as imagens que me deste na noite já extinta...

Estás novamente no quarto junto à cama,
Só tapada com a toalha, consigo ver por debaixo da mesma os mamilos arrepiados pela frescura da manhã que inunda o quarto,
Vieste chamar-me
“Vem tomar banho comigo amor!”
Assim o faço...

Agora já sinto o jacto quente da água caindo nos nossos ombros tal qual uma chuva tropical.
Beijamo-nos e sentimos os corpos a beijarem-se...

No alto do teu pescoço espremo a esponja húmida
Que te espalha a espuma
Que te escorre pela barriga
Que me toca a barriga
Que me transmite um formigueiro
Que me treslouca os sentidos
Que me faz entrar em ti e
Que te faz perder os sentidos
Que te tresloucam,
Que te transmitem um formigueiro
Que te toca a barriga
Que tem a espuma
Que eu espremi da esponja, no alto do teu pescoço!

E o momento é eterno!
E o momento merece ser escrito!
E o momento é um século!
E o momento já tem a idade do mundo!
E o momento é infinito!
E o momento já acabou e já te secas com a toalha.

E já me olhas sorrindo e me dizes, tal como soubesses no que penso
“Sim querido, o momento é eterno!”
E abraças-me encostando o ouvido ao meu coração...como se o quisesses ouvir...
E parece mesmo que o ouviste pois findados alguns segundos,
Sorris para mim e dizes-me:
“É exactamente o que sinto!”

Perdido No Meu Próprio Quarto


Perdido no meu próprio quarto,
Embebido em memórias do teu sorriso.
Sentado na secretária, com a cabeça entre as mãos,
O cabelo oleoso entre os dedos transpirados,
A minha camisa suada nas costas,
Tiro-a e fico com a parte de cima nua como gostavas que passeasse pelo quarto.
Sempre me dizias que eu era o homem com o corpo mais belo do mundo,
Eu ria e forçava uma barriga, que não tinha, para parecer gordo,
Tu rias também e dizias que nem valia a pena forçar uma barriga – eu era o homem com o corpo mais belo do mundo!
Então eu suspirava tal como um rapazinho que se apaixona pela companheira de caminho para a escola.

Mas suspiros já não os tenho!
Agora o meu quarto é o maior mundo do mundo,
Nele estão contidos todos os momentos que vivemos...
Nele estão inscritas as palavras que dissemos,
As lágrimas que secámos um ao outro,
As gotículas de suor que deixamos no corpo do outro...

Deixaste a Mulher no meu ser
E agora, por mais mulheres que eu possa ter,
Nenhuma será como tu,
Foste a melhor,
Foste a única,
Foste verdadeiramente minha
Mas depois tudo acabou!
O acidente, os vidros estilhaçados,
Os pneus a chiar no piso molhado,
O carro a ziguezaguear...
A tua cara aterrorizada – a tua última expressão que recordo
E o embate final na árvore, tantas vezes simbolizada como vida,
Agora a eterna morte!

E eu no meu quarto, completamente perdido
Porque o meu quarto é o maior mundo do mundo,
Porque foi o nosso mundo,
Uma vida de amor, de futuro que não será mais que a eterna lembrança do passado

Amo-te querida!
E vais ser sempre tu com quem me deitarei todas as noites,
Abraçar-te-ei o espírito com tanta força que hei-de recordar a tua respiração no meu peito,
Os teus sorrisos infantis,
E as tuas palavras de paixão - eu para ti era o homem com o corpo mais belo do mundo!

Completamente perdido,
Completamente um nada que ficou!
Um vazio que me enche a alma,
A garganta que, seca, teima em não chorar
E um homem que, só, teima em não te esquecer!

Não Fosse Eu Um Poeta


Não fosse eu um poeta,
E amar-te-ia simplesmente!
Por isso te escrevo futilidades e palavras já escritas por outrem
Em algum lugar e algum tempo!
Vão é o amor escrito!
Eterna pode ser a palavra escrita mas, ponhamos de parte as flores, metáforas e eufemismos porque vão...
Vão é o amor escrito!
Poetas fingidores insurgindo-se em sentimentos que adorariam sentir!
Eu sou assim mesmo!
Poeta de rua,
Barato,
Prostituto nas palavras
Enganando, fingindo, confundindo.
Com as palavras eu te engano, eu te finjo, eu te confundo!
Sorve-las como se fossem tuas...
São de todas as mulheres com quem me deito!
Todas se sentem a mulher mais amada do mundo!
Mas o poeta...
O poeta é o pior amante do mundo!
E eu sou um poeta!
As minhas palavras inspiram o teu amor em mim
Mas querida, quem me dera amar-te sem ter de to escrever
Amar-te simplesmente...
A mulher que és...
A mulher que és-me!
Não ter que to dizer,
Não ter que te cantar cantigas de amor...
Demonstrar-te apenas com o olhar,
Mas sei que me olhas nos olhos e não consegues ver nada!
E tudo o que te posso dar são palavras...
Não fosse eu um poeta!...

A Distância (Eu Vejo-te Nua!)


“Despe-te para mim amor,
o dia é de festa,
a chuva que cai é o que não presta,
restamos nós...”

E eu já me dispo,
Já o faço descobrindo o meu corpo tão teu sem nunca o teres afagado,
Eu já coloco o peito nu que tu tocas primeiramente a medo,
Seguidamente sem pudor,
Tocas-lhe com desejo
(As tuas mãos no meu corpo!)
Tiro as calças lentamente...
Como se não conhecesses o que escondo...

A distância...

Como se não me visitasses todas as noites o corpo...
Como se não conhecesses todas as curvas do meu corpo rectilíneo...
(As tuas mãos no meu corpo!)
Eu dispo-me e demoro-me
E olho o teu olhar, pedindo-me a nudez sem demoras...
Mas com demoras me dispo...
Pois quero-te querendo-me nu sem demoras para que, com demoras, eu me dispa para ti!
(As tuas mãos no meu corpo!)
E te faça sofrer, e te faça ansiar por mim, pela minha nudez,

Que nos mantém distantes,...

Porque me queres nu!
Porque me queres consumir!
(As tuas mãos no meu corpo!)
E agora estou nu,
E transformo o corpo para ti,
E já não sou eu nem tu és tu!
(As tuas mãos no meu corpo!)
E já não sei nada sobre ti,
Já não sei o teu nome nem respondo pelo meu,

Que nos obriga a viver vidas paralelas...

Só sei que quero estar nu na tua nudez,
Só sei que...
(As tuas mãos no meu corpo!)
És bela e tão mulher e tão minha e tão pura e tão perfeita e tão distante e tão real no meu sonho!
A tua nudez!
Tu mesmo! Tu como és!

E, lentamente, que acaba por nos afastar para sempre!

A tua nudez que vi...
Sem nunca ter visto!
...no primeiro dia em que te vi,
A tua nudez com que sonhei...
(As tuas mãos no meu corpo!)
Com que ocupei noites em branco!
A tua nudez que me deixa ver quem tu és...
E eu vejo-te....
(As tuas mãos no meu corpo!)
Mesmo pela cortina de nevoeiro nas minhas órbitas...
Eu vejo-te nua!

Na Mulher


Na Mulher me fiz criança,
Na Mulher me fiz homem.
Na Mulher encontrei inspiração,
Na Mulher avistei um refúgio.
Na Mulher encontrei uma Amiga,
Na Mulher encontrei uma Mãe.
Na Mulher encontrei uma Vida,
Na Mulher temi, pela primeira vez, a morte.
Na Mulher respirei pela primeira vez,
Na Mulher deixei o meu ser.
Na Mulher encontrei uma jura de amor,
Na Mulher gritei de prazer.
Na Mulher encontrei uma esperança,
Na Mulher encontrei uma lição.
Na Mulher desvendei alguns segredos,
Na Mulher descobri a sensualidade.
Na Mulher sorvi a paixão,
Na Mulher colhi a vida.
Na Mulher uni o corpo,
Na Mulher fundi a alma.
Na Mulher inspirei as minhas palavras,
Na Mulher depositei a minha ternura.
Na Mulher coloquei o meu futuro,
Na Mulher vasculhei o meu passado.
Na Mulher procurei respostas,
Na Mulher encontrei novas dúvidas.
Na Mulher aspirei perfumes primaveris,
Na Mulher deixei algumas cicatrizes da vida.
Na Mulher naveguei durante dias,
Na Mulher sequei algumas lágrimas revoltas...

Na Mulher...

Na Mulher comecei a vida!

Por Mim Zelando


Amar-te,
Beijar-te,
Continuamente,
Descompassadamente.
Estímulos
Famintos!
Gritos
Hedónicos!
Irás
Jazer
Lívida,
Mulher!
Nutre-me,
Ousa-me,
Pecaminosa,
Querendo-me e
Reactando-me a
Sexualidade!
Trespasso-te,
Urgindo-te de
Vida! Em
Xeque te deixo, sozinha, por mim,
Zelando!

Viagem

Comecei a minha viagem pelo sul.
Descobri dez cristais adornados por um vermelho vivo,
Aí passeei algum tempo e rumei a norte.
Subi por superfícies macias e tão lisas que quase me fizeram escorregar.
Encontrei então uma densa floresta onde me perdi por longos momentos...
Explorando todo o fantástico que encerrava em si...
Bosque encantado,
Floresta dos mil prazeres!
Vislumbrei uma ávida abertura rodeada de vegetação cintilante,
Aproximei-me um pouco, trémulo pela incerteza do incerto,
Mas decidi-me a entrar,
A conhecer tamanha paisagem que me intrigava o goto.
Descobri um ténue caminho que me levou a uma clareira de vermelho de chamas...
Eterno fogo momentâneo.
O calor abrasador fez-me suar, perder os sentimentos,
Viajando por uma seara de cores quentes que findou num salto para o infinito...
Para o vazio!...
E perdi os sentidos novamente!...
Quando acordei dei comigo fora da gruta mirabolante,
Que, momentos antes, me tinha transportado até aos limites da metafísica!
Percorri novamente a floresta para norte até que a vegetação acabou,
abrindo-me uma região árida e escaldante......
Deserto fumegante!
Achei-me dentro dum socalco não muito profundo...
Dir-se-ia que aí teria caído um meteorito que tinha toldado o solo como se se tratasse de um lago...
Vagueei sempre no sentido ascendente em direcção às sinuosas montanhas que se erguiam majestosamente à minha frente...
A sua altura era demais exacerbada e dei comigo a caminhar a passos largos para atingir o seu cume.
Depois de me ter recostado e descansado no cimo da montanha onde curiosamente não fazia frio – talvez porque era coberto por um círculo aveludado cor de café - deixei-me deslizar como se fosse um escorrega,
Qual duna enorme que ousamos escorregar!
Cheguei então ao ponto principal da minha viagem...
Esse pedestal com duas esmeraldas simétricas cravadas logo por cima de dois pequenos orifícios, por onde saíam lufadas de ar a um ritmo compassado.
Por baixo, havia ainda um orifício maior que, aberto, mostrava pedras de um tom madrepérola que me enfeitiçaram a atenção.
Mergulhei, onde lutei com um ser vermelho, viscoso e quente que queria cobrir todo o meu ser com os seus movimentos oblíquos!...
Passei horas nesta luta desenfreada até que finalmente consegui sair deste orifício fervilhante...
A minha viagem já estava a findar e agora apenas teria que descer deste lugar paradisíaco pelas lianas que envolviam todo este pedestal onde tinha passado os últimos minutos.
Estava feliz quando finalmente desci empoleirado em belas lianas de tons acastanhados...
Agora que já tinha chegado ao fim da viagem fechei os olhos e adormeci...


Era a terceira vez naquela noite que viajava pelo teu corpo!

Pedaços


Pedaços de vida e pedaços de morte,
Pedaços do que vivemos,
Pedaços do que sentimos,
Pedaços de retratos a sépia esquecidos em álbuns perdidos.
Pedaços de almas em delirante tormento,
Pedaços de riqueza separando culturas em meros pedaços incongruentes,
Pedaços de homens em pedaços de mulheres,
Pedaços de política enchendo-nos os ouvidos com pedaços de propaganda gratuita,
Pedaços de estuque sobrepostos nos escombros de vidas,
Pedaços de carne humana retirados por assassinos de fato e gravata,
Pedaços de valores restaurados em pedaços de mentes livres,
Pedaços de evidência envoltos em camadas de futilidade,
Pedaços de paixões efémeras,
Pedaços de uma sociedade subdividida em pedaços descontentes,
Pedaços de comunismo utópico,
Pedaços de fascismo obsoleto,
Pedaços de leis que pensamos votar,
Pedaços de orgasmos que ingerimos por prazer,
Pedaços dos nossos pedaços a irem todos os dias para a escola,
Pedaços de realidade esquecidos em subterfúgios para a mente

Pedaços de mim espalhados pelo chão
Enfim...
Pedaços de mim despedaçadoCom este mundo que despedaça ainda mais o meu coração despedaçado!

O Calor Da Tua Carne


Oh se eu pudesse tocar-te!
Pássaros voariam num voo imberbe,
Imaculado de doçura jovial e fogosa.
Seria eu em ti, sendo uma mulher impreterível
Demais densa para ser amada com sexo,
Demais exigente para ser penetrada com amor,


Seria eu! Oh! Eu, que já nada sei ser,
A mulher que és quando te vês em em mim projectada,
E então cantariam pássaros nesse voo revolto,
Livre e solto,
Chilrear sereno,
Adocicando os movimentos das tuas ancas,
Presas em mim, amarradas à minha carne!


Oh se eu pudesse tocar-te!
Nunca mais ousarias não tocar-me,
Não lamber-me,
Não amar-me mas amar-me tu não saberias
Pois a sabedoria não se embriaga na voz da emoção...


E depois voltares-me as costas sorrindo,
Tocando-me a carne, com a tua carne
E depois a minha carne teres dentro da tua carne,
Para no fim a minha carne, apertares nas tuas mãos...
E com a boca cobrires toda a minha carne,
Que num trejeito de ardente luxúria,
Tua alma toca, roçando apenas o calor da tua carne!

E Viver Publicidade...

E viver publicidade...

E acordar!...
E acordar sem ter sequer adormecido...
(Nem 4 horas dormi hoje!)
E ser hoje a apresentação do projecto final ao cliente!...
(Será que ele gostará daquela reformulação que fizemos?)
E tomar banho à pressa...
(Quando foi o meu último banho quente e relaxante ao som de Sinatra?)
E vestir-me à pressa...
(Espero que estes vincos no blaser não se notem!)
E comer à pressa...
(Oh não! Só tenho 2 iogurtes no frigorífico!)
E correr... com pressa!
(Porque já estou atrasado!)
E a reunião que é às 11h!...
(É claro que o cliente gostará da reformulação da peça!)
E o sinal que não esverdeia...
(Dá-me carta verde para passar!)
E o trânsito que não flui...
(Exaspero!)
E a família a quem já não ligo há uma semana...
(Desculpa mãe mas estou cheio de trabalho!)
E os projectos pendentes aos quais tenho que dar atenção!
(Quais as minhas prioridades para hoje?)
E o copy que tenho que trabalhar
(Este copy não resulta!)
E os sábados que já não tenho há tanto tempo
(Desculpa querida, mas vou passar o sábado na agência e se calhar, domingo também!)
E as contas que ganhamos
(Vamos festejar!)
E as contas que perdemos
(Vamos trabalhar mais!)
E os momentos divertidos
(Sorriso transbordante!)
E os momentos difíceis
(Lágrima oculta!)
E estar lá todos os dias da minha vida!...
...

...E acordar!...
E ser a pessoa mais feliz do mundo!

...E viver publicidade...