Abala-me


Não, não me olhes dessa maneira,
Prisioneiro do teu olhar.
Diz-me onde me queres e estarei lá,
Abraça-me outra vez,
Passa a noite comigo,
Não me fales em sexo.
Não quero sexo.
Apenas quero deambular no alto da tua nuca,
Com a boca sorver o calor da tua pele,
No teu corpo pintar quadros durante horas.
No teu corpo suar a minha arte.
No teu corpo um toque de mim.
(Suspiro!)

Entrega-te a mim.
Abala-me.
Já não aguento tantos minutos sem
Inspirar o ar que expiras.
O meu destino.
Não jogues jogos comigo.
Más intenções – não as tenho - quando te toco.
Faz-me ser puro,
Faz-me amar-te como se eu não soubesse amar,
Faz-me sorrir em vez de rir,
Faz-me homem.
Faz-me criança.

Lágrimas em nossos olhos enquanto fazemos amor,
Lágrimas nem de felicidade nem de tristeza,
Lágrimas porque é demais forte,
Demasiado diferente do que já havíamos experimentado em nossas vidas errantes,
A paixão e o fogo,
O céu e a terra.
A fome e a sede.

Não me fales então em sexo.
Desconheço-o desde o dia em que te toquei pela primeira vez.
Por isso toca-me, leva-me, usa-me, arranca-me, morde-me, beija-me, sente-me, ama-me,
Até veres em mim a poesia que procuras desde sempre.
E se não a vires.
Prefiro que me mintas.
Mas mente bem.
Engana-me sempre.
Não me acordes,
Não me destapes os olhos,
Quero-te assim, especial.

E tu conheces-me:
A paixão é a água onde curo as minhas securas
O ar que me enche os pulmões,
A água que me refresca a alma.
Não vás,
Ou vai mas volta,
Abala-me.
Faz-me viver.
Arranca-me desta vida miserável.
Rega-me de beijos,
Faz-me contemplar-te.

A lucidez de não estar lúcido.
Morfina para o meu doce desejo.
Já não quero ter sonhos.
Apenas quero que não me acordes deste sono profundo
Não te tornes igual a todas as mulheres que já tive.
Prefiro a tempestade à calmaria de águas mortiças.
Não sejas uma paixão passageira,
Belisca-me.
Ofusca-me.
Cega-me.
Abala-me.
Faz-me ser.

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