Cheiro a Amor


Estavas lá… Estavas lá na imunda imundice que não era mais que a tua própria vida. Estavas lá… nua de vida e vestida de sombras do outro mundo… Estavas lá… e agora não tinhas para onde ir… Estavas lá num antro de vícios dos quais não podias fugir.
Estavas lá e oh!... O cheiro!... O cheiro insuportável cheirava a um cheiro que me era, até então, desconhecido, pois nunca tinha cheirado semelhante cheiro.
Cheirava a sexo! Cheirava a minutos de prazer efémero misturados com anos de dor infindável!... Cheirava a um homem que provocaste sem querer provocar… cheirava a suores frios outrora quentes e lascivos que se misturaram sem que houvesse o mínimo contacto de duas almas perdidas. Cheirava-me às dores corporais de uma mulher que não conseguia deixar de ser submissa e que, por isso, cheirava também a dores espirituais ainda mais profundas e incisivas que as primeiras.
Não, não cheirava a amor! O amor não se cheira… o amor sente-se. O amor é partilha. O amor é devoção. O amor é ternura. O amor é perseverança, intimidade, conhecimento, fortaleza, doçura, confiança, honestidade, transparência, beleza, paciência, respeito, protecção e reciprocidade! O amor é lágrimas e o amor é sorrisos. O amor é simples e tão complexo! O amor é a razão da emoção! O amor é isto tudo! Mas, mesmo assim, não está completamente descrito… O amor é muito mais do que a descrição que seres errantes com eu lhe dão! O amor é aquilo que fica por dizer quando nos despedimos para sempre do amor da nossa vida!...
E tu, pobre criatura perfeitamente imperfeita, tu nunca soubeste apreciar o bem mais gratuito que faz de nós os seres mais ricos do mundo. Sempre caminhaste pelo caminho mais difícil. Sempre passaste ao lado do que merecias verdadeiramente. Tu merecias ter cheirado algo puro mas, infelizmente, não o conseguiste…
Pena que quando eu cheguei e te vi morta já não me pudesses cheirar. Pois, nessa vez, haverias de cheirar um cheiro que não costumavas cheirar: o cheiro a que sempre cheirei quando estive contigo e o cheiro a que cheirarás sempre que eu me lembrar do teu cheiro… cheiro a amor!
Sim, eu sei, o amor não se cheira… o amor sente-se! Mas se cheirar é sentir e sentir é cheirar… então tu para mim cheirarás sempre a amor!

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